Cunnus

Cunnus

domingo, outubro 23, 2005

Cantiga de Amor

Cantiga de Amor
Em forma de Cantiga de Vilão


A donzela de Biscaia,
ainda ao meu encontro saia,
de noite ao luar!

Se ela agora me desdenha,
ainda ao meu encontro venha,
de noite ao luar!

Pois se agora me amesquinha,
que me apareça sozinha,
de noite ao luar!

Rui Pais de Ribela
De Diogo Fogaça a uma dama muito gorda, que se encostou a ele, e caíram ambos, e ele disse-lhe sobre isso umas palavras.

Rifão

Que gentil feição de damas,
não sei como vo-lo diga,
que tudo é cu e mamas
e barriga.

As mamas dão pelo ventre,
o ventre pelos joelhos,
e do cu até aos artelhos
gordura sobresselente.
Arrenego de tais damas,
é forçado que o diga,
porque tudo é cu e mamas
e barriga.

Corrigiram-na mui bem,
pero foi com muita pena,
porque lhe fizeram querena
no rio de Sacavém.
Revolta de ambas as camas,
isto com muita fadiga,
porque tudo é cu e mamas
e barriga.

Corrgiram-lhe o costado,
mas a quilha ficou podre.
Remendaram-lhe com um odre
do avesso tosquiado.
E com três peles de gamas,
muita estopa de estriga,
porque tudo é cu e mamas
e barriga.

Não prestou calafetar,
porque faz água profundo,
já não há crespim no mundo
que lha pudesse vedar.
Ao diabo dou tais damas,
é forçado que o diga,
porque tudo é cu e mamas
e barriga.

Cabo

Mas quebraram-lhe as estoras,
encostou-se sobre mim,
teve debaixo crespim
bem acerca de três horas.
Já renegava das damas,
saio com muita fadiga
debaixo de cu e mamas
e barriga.

Diogo Fogaça

Joguete Direito

(Espécie de Escárnio)

Cantiga que o autor fez a Pero Rodrigues Grongelete acerca da sua mulher “que havia prez que lhe fazia torto” (que era acusada de o trair)

Pero Rodrigues, da vossa mulher,
não acrediteis no mal que vos digam.
Tenho eu a certeza que muito vos quer.
Quem tal não disser quer fazer intriga.
Sabei que outro dia quando eu a fodia,
enquanto gozava, pelo que dizia,
muito me mostrava que era vossa amiga.

Se vos deu o céu mulher tão leal,
que vos não agaste qualquer picardia,
pois mente quem dela vos for dizer mal.
Sabei que lhe ouvi jurar outro dia
que vos estimava mais do que a ninguém;
e para mostrar quanto vos quer bem,
fodendo comigo assim me dizia.

Martim Soares

Proh Pudor

Todas as noites ela me cingia
nos braços, com brandura gasalhosa;
todas as noites eu adormecia,
sentindo-a desleixada e langorosa.
Todas as noites uma fantasia
lhe emanava da fronte imaginosa;
todas as noites tinha uma mania
aquela concepção vertiginosa.
Agora, há quase um mês, moderadamente,
ela tinha um furor dos mais soturnos,
furor original, impertinente…
Todas as noites ela, ó sordidez!,
descalçava-me as botas, os coturnos
e fazia-me cócegas nos pés…

Cesário Verde

A Masturbação

Não acho normal que a masturbação continue a ser vista por alguns (muito poucos, espero) como um acto impuro ou pouco digno.

Diga-se de passagem que não acho normal que as pessoas não se masturbem. Também me custa a perceber aqueles que vêm a masturbação como um prazer exclusivamente solitário, um mero sucedâneo do sexo a dois. Aliás, acho-o tão pouco normal que só me apercebi desta filosofia há pouco tempo atrás (ingénua!?) quando um dos nossos canais nacionais de televisão, núcleo duro da cultura popular, nos brindou com uma série de testemunhos verídicos, recolhidos entre o seu público alvo, sobre o acto da masturbação. Um deles era o de uma senhora que a aceitava bem mas não era praticante porque, tendo ela uma relação estável, não tinha necessidade de fazê-lo.

Eu eu pergunto: porquê? Será que o companheiro de tal fêmea nunca desejou vê-la masturbar-se? Será que ela nunca o fez ao seu lado enquanto ele dormia (ou fingia) em noites em que o sexo não a satisfez ou era inexistente? Não sentiu o prazer de se mastubar com o(s) dedo(s) do(s) pé(s) do outro, lambendo o seu próprio sabor em seguida? Nunca se veio assim? Pois devia! Ou pelo menos experimentar.

Devia tentar ver-se de pernas abertas, reflectida no espelho, de preferência um grande para que possa dar-se conta do seu prazer – é muito excitante ver o prazer que damos ao outro, mesmo que esse outro sejamos nós próprios. Olhar para si e ver como a sua postura muda consoante as nuances do seu gozo, as posições que escolhe, aquelas que lhe dão melhor acesso ao olhar, à(s) mão(s) e/ou artefactos, aperceber-se da tradução visual do que já sabia sensorialmente, ver onde e como tocar-se, onde e como deseja ser tocada, sem pressa, sem necessidade de ceder ao primeiro impulso do orgasmo, protelando-o vezes sem conta, até ao momento em que fecha os olhos e a onda imensa a prostra por terra.

De pernas bambas e a respiração quase ofegante, abrir os olhos e ver-se, saciada, tranquila, ainda de pernas abertas expondo o prazer recente, o seu prazer, o mimo que se deu, tão diferente dos que os outros lhe podem dar. Encarar a sua imagem no espelho, olhar dentros dos seus próprios olhos e sentir a força de não ter vergonha de si mesma.